segunda-feira, 16 de agosto de 2010

Preciso Pensar Sobre Isso.

Acho que nem bem lembro como era amar e no entanto não haveria de esquecer-me.
Não lembro de como ser agradável, nem de como era ser uma boa companhia, isso se eu tenha sido algum dia.
Ainda não lembro como dar meu melhor e receber o melhor de alguém. Acredito que faz-se com a prática, e creio somente ter praticado afastar-me e endurecer-me ao longo do tempo.

domingo, 15 de agosto de 2010

Reflexo Involuntário (quase que) Imediato

O que me irrita em você, na verdade é o que me irrita em mim mesma. A parte que me entristece em minha controladora personalidade ao relacionar-me se apresenta disfarçada de um certo desconforto com o que você faz. Tendo a ser demasiado possessiva em relações, especialmente as amorosas. Tenho tentado não me chatear, e não te pedir o que não quero, não devo e nem posso cobrar. Tento ser justa e me envolver da forma mais suave que posso na sua vida, porém apenas em questões às quais eu não esteja diretamente envolvida. Nas questões as quais eu participe ativamente, não apenas opino, como exijo meu direito a tal.
Antes de cada pequena coisa repartida, me esforço muito para tentar enxergar qual parte me cabe e qual cabe a você. Atribuo valores e vejo até onde a reciprocidade permite que eu vá.
Mas às vezes não consigo controlar. Brota dentro de mim, talvez do coração, ou da parte atribuída irracional e instintiva, onde os sentimentos brotam ao invés de serem trabalhados e racionalizados. De lá de onde brota, vem desenfreado e se aloja em algum lugar perto do raciocínio e uma vez lá, torna se quase racional e nos faz crer ser passível. Mas sei que não é. E sabendo, me confundo ao sentir mesmo tendo a certeza que não devo.
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 Às vezes a sua complacência com os demais me entristece um pouco. O movimento que você faz e que o leva além do sentido que segue a vida, simplesmente para agradar pessoas que, à primeira vista, não dão a devida atenção recíproca a você. E então me sinto tola.
Me recorre então o sentimento de que, pra você, é mais aprazível o desgosto do que o amor. Que para você o desprezo é de mais valia do que a atenção e o afeto.
Porque será que a tristeza te alegra mais que a felicidade? Porque apenas depois de ferir, você age com cautela? Porque o desleixo te cativa mais que o cuidado?
Será que somos todos assim e apenas nos salta aos olhos nas atitudes de outrem?!
Acredito que meu erro consiste em insistir em dar-te o que você aparenta não querer. Meu cuidado e carinho nunca fora tão valorizado quanto a minha decepção. Não busco me decepcionar. Incessantemente busco serenidade.
"Você tem a mania de gostar do que difícil lhe parece, não do aprazível. Do que te negam, do que você mesmo julga árduo alcançar. Quer se provar.
Certa vez lhe disse ter a certeza de que queria meu coração e de certo não saberia o que fazer com ele. E se esforça para tê-lo, pois se soubesse que o tem, não moveria um dedo sequer em direção alguma."
Penso no quanto ganharia de sua admiração por não te admirar e então vejo que enorme estupidez isso me parece. Por nada eu deixaria de te admirar. E nem fingiria sentir o que não sinto para parecer o que não pareço, para então receber de volta o que gostaria. Não, não sou assim. Os fins não justificam os meios. Contrariamente, são os meios que importam, eles sim são motivadores à tudo.
Olho a fundo nos teus olhos e vejo que não tem a menor intenção de ferir. Me distraio com seus olhos amáveis e com a leveza do teu olhar, mas quando menos se espera meu peito dói, e quase que imediatamente o coração aperta.

sexta-feira, 6 de agosto de 2010

Sometimes, the devil doesn't work on empty minds!

Minha mente vazia de problemas sentimentais, absorta em trabalho, funciona muito melhor!
A mente vazia nem sempre é o laboratório do diabo!

terça-feira, 3 de agosto de 2010

The world has turned and left me here

The world has turned and left me here
Just where I was before you appeared
And in your place an empty space
Has filled the void behind my face

I just made love with your sweet memory
One thousand times in my head
You said you loved it more than ever, you said
You remain, turned away
Turning further everyday

The world has turned and left me here
Just where I was before you appeared
And in your place an empty space
Has filled the void behind my face

I talked for hours to your wallet photograph
And you just listened
You laughed enchanted by my intellect
Or maybe you didn't

You remain, turned away
Turning further everyday

The world has turned and left me here
Just where I was before you appeared
And in your place an empty space
Has filled the void behind my face

You remain, turned away
Turning further everyday

The world has turned and left me here

Just where I was before you appeared
And in your place an empty space
Has filled the void behind my face

The world has turned and left me here
Just where I was before you appeared
And in your place an empty space
Has filled the void behind my face

Do you believe what I sing now?
Do you believe what I sing now?
Do you believe...?


quinta-feira, 29 de julho de 2010

Divagações sem sentido sobre coisa alguma.

Sim, um carro é importante, mas não tão importante como o amor.

O amor te leva à partes nunca antes visitadas, ou quando revisitadas, são como partículas da infância, lembranças amareladas e saborosas que têm um cheiro particular e te remetem sempre à sensação de conforto.

Quase todos os dias sonho, mas não sonho com você. Eu sonho sem você. E em muito se parece com o que sinto acordada, o que me faz pensar em que graça tem sonhar, quando em sonho podemos ter e ser e fazer o que quisermos, se sonho com a mesma tristeza que me consome dia após dia. Nos sonhos não vejo o seu rosto, nem sequer vejo rosto algum. É um sonho de sensações, de estados de espírito, e a unica imagem neles é a sua nuca. Vejo a sua nuca, mas nunca o seu rosto. E vejo a minha dor. É tão densa que posso até vê-la. É tão real e tão parecido com o que sinto ao despertar, que demoro a distinguir o que ainda é sonho e onde começa a dita realidade.
Certamente uma ironia para que eu sofra as vinte quatro horas que o dia possui, ao invés das habituais dezesseis.

Sim, amor é importante, mas não tão importante como a presença.

Não tenho estado sozinha. Tenho sempre boa companhia. Gosto de compartilhar sorrisos e idéias. Dividir minha visão particular do mundo e ao mesmo tempo, ver o mundo com outros olhos que não os meus. A visão por outros olhos é demasiado atraente e sempre muito válida. Me faz pensar e refletir, comparar minhas idéias e confrontar meus pensamentos, o que em muito me faz crescer.

Sim, a presença é importante, mas não tanto quanto a ausência.

Ah, a ausência. Tem sido minha companheira inseparável nesse dias que se seguem. Não poderia dar-lhe o desmerecimento, visto o tanto que a sinto e o quão impactante é.
O sonho recorrente de uma ausência infundada me persegue e me limita ao estado melancólico inerente à minha vontade. Como uma latência, a ausência está sempre ali. Por mais que às vezes me esqueça ou me distraia, volta e meia recomeça a latejar, às vezes fortemente, outras nem tanto, porém ao lembrar sua existência, a angústia me consome até que me distraia outra vez.

Sim, a ausência tem sido importante, mas não tanto quanto os sonhos.

Não estes sonhos, sátiras perversas do inconsciente, mas as ambições e anseios tidos popularmente como sonhos. Não deixo de sonhar, ansiar, vislumbrar um futuro próximo, sem deixar de ter em mente que este está sendo construído agora, no presente momento.

segunda-feira, 5 de julho de 2010

A fábula do pequeno pássaro presunçoso

A noite já caía, o sol há pouco havia se recolhido e os tons de laranja-purpúreos coloriam as nuvens que rajavam o céu. Este espetáculo de cores tem menor duração no frio inverno que adentrava e em pouco tempo a noite chegaria, escura e envolvente como manto negro.
O final da tarde anunciava o que  todos os pássaros tinham em seus instintos mais primitivos. Que deveriam recolher-se ao ninho ou à árvore a qual estava designada para que dormissem.
Todos cantavam em revoada, e em alvoroço se empoleiravam em goiabeiras, amoreiras, mangueiras e outras diversas árvores mais. Cada um em sua árvore preferida, com seu bando ou família, abrigavam-se e se preparavam para a gélida noite que estava por vir.
Da minha janela, sempre acompanhava o ir e vir dos pássaros e seus repetitivos hábitos. O canto deles me anunciava a chegada da manhã nas noites que passava em claro, por outras vezes me diziam o findar da tarde e o inicio da noite, seus alegres namoricos eram como calendário ao me afirmar o tão esperado início da estação dos amores, a primavera.
A árdua luta travada nos galhos da amoreira era indício claro de quem mandava por ali no nascer de seus primeiros frutos primaveris. Se caso as quisesse, eu teria de lutar pelas amoras que plantei como eles brigavam entre si. E ao contrário do que possa se pensar, não havia vantagem alguma em ser da minha espécie, visto que não sabia voar.
No calmo ritmo peculiar da natureza, viviam suas vidas e atarefavam-se de seus afazeres de pássaro. Como relógio, me ditavam um ritmo porém diferente do habitual. O ritmo da vida e dos pequenos seres era mais sutil e simples.
Mas não o pequeno sabiá. O pequeno e dócil sabiá-laranjeira que vivia em meu quintal. Sua plumagem era vermelho-ferrugem em seu ventre, levemente alaranjado, e o restante de seu corpo de cor parda, com o bico de um amarelo muito escuroEle teria tudo para passar despercebido diante meus olhos curiosos, mas havia algo de diferente nele. Algo surpreendente, algo iluminado que me chamava muita atenção. Talvez fossem seus hábitos nada ordinários, ou o seu cantar que em muito se assemelhava ao cantar de todos os outros sabiás, porém o modo qual ele cantava era único. Cantava mais forte e mais alto do que os de mesma espécie, parecia fazê-lo não só por estar marcado em seu instinto de pássaro, parecia fazê-lo com mais amor, ou pelo menos com mais astúcia.
Na precisa hora da revoada, ele não se recolhia. Zanzava fagueiro por todo o quintal. No primeiro sobrevôo, pousava na goiabeira porém frutos não encontrava. Tornava a voar sobre o jardim e aterrissava à minha amada amoreira, depois ia à marianinha, e à nespereira e em nenhuma delas achava o que buscava. As árvores também tinham o seu ritmo e necessitavam da noite de descanso, tal qual o pequeno sabiá, para que na manhã seguinte provessem novos frutos. Mas ele parecia não entender. Alçava vôo uma vez mais e rondava por todas as árvores frutíferas. Por vezes encontrava uma fruta ou outra, as vezes tinha de procurar as que caíam ao solo. Se alimentava da maneira que podia e toda noite era assim. Eu o acompanhava com os olhos e quando o perdia de vista, ainda podia ao longe ouvir o seu cantar.
Mas hoje seria diferente. Percebi quando ele repentinamente pousou no parapeito da minha janela. Tamanha minha surpresa, dei um pequeno sobressalto. Ficamos nos entre-olhando e não quis arriscar mais nenhum movimento brusco com medo de que se afastasse. Mas muito pelo contrário. Já foi falando sem qualquer medo de me afugentar "Você é triste." -disse o sabiá me encarando os olhos. "Ora, que sabiá assanhado!", pensei comigo mesma. Seguiu-se uma longa pausa, para depois completar -"Vive aí espreitando, querendo viver a vida dos pássaros."
Não tive reação. Talvez o pequenino estivesse certo, talvez eu realmente os observava mais que o normal e invejava suas simples vidas. Queria retrucar, mas não o faria sem antes pensar um pouco. "Sim" -disse eu à ele ainda envolta em meus pensamentos sem qualquer conclusão formada.
Devo a primeira vista parecer triste, porém, acredito que apenas sou só. Apesar da minha solidão, vivo a minha vida, cumpro meus deveres e respeito meus horários. Ser só e quase com ser triste, mas não seria precisamente. É um pouco diferente.
"E ademais, nunca fora à amoreira brigar por seus frutos"-Insisti.
O pássaro sorriu de canto de boca, tomou fôlego e pôs se a cantar. Era como se o canto lhe dava tempo para pensar.
Continuei então a falar, preferindo fingir não ter notado a falta de educação do pássaro ao cantar assim, por cima do que dizia -"portanto não vivo a vida dos pássaros. Por mais que quisesse, tenho mesmo é de seguir os afazeres e as responsabilidades da minha vida humana."
Fazia ares de tudo saber e insistiu em me dizer o que era e o que não era verdade. E dizia com tanta propriedade, que por segundos acreditei que sabia do que falava. Mal sabia ele que tal verdade era a sua, vista através de seus pequeninos olhos negros.
Insisti mais uma vez em meus argumentos e ele ao menos não tornou à cantar. Pelo contrário. Calou-se, me fitou e disse-me conciso que tinha razão no que afirmava. Mesmo se eu quisesse, não poderia viver a vida de pássaro.
Sorri e passei-lhe a mão pelo pequeno dorso. Ele consentiu amistoso, parecia gostar do afago. Sua receptividade me impulsionou à indagá-lo:
- E tu, pequeno sabiá?! Por que queres viver como gente? Não sabes que a beleza do pássaro é ser pássaro. Sabeis voar e ser livre. E encontrará sempre frutos doces se os procurar com seus irmãos. Terá sempre abrigo junto aos teus quando cair a noite e nunca voará só na escuridão como o fazes. E seu canto nunca será como os demais, afinal teu canto é único, e sempre que ouvi-lo, saberei ser o teu.
Tornou a cantar como se pensasse, mas desta vez alçou vôo e rapidamente desapareceu no breu da noite.
                              Turdus-rufiventris ou Pequeno Sabiá Laranjeira

domingo, 4 de julho de 2010

O Conto do Profundo Abismo

De um lado, erguia-se ela. Ria com certo pesar e tinha em seu sorriso a certeza de que havia algo de errado. Na beira oposta do precipício, lá estava ele. Impávido, aparentemente forte como rochedo, imponente ao olhar como não era nas profundezas do seu eu. Não se cedia ao direito de rir, apenas contemplava a outra margem e na sua ingênua euforia, pensava somente em ter de atravessar a qualquer custo.
E entre eles, o profundo abismo. Emoldurando a fenda, o rochoso e árido saibro. Erguia-se em um vermelho vibrante como a argila e à medida que adentrava a terra, o vermelho tornava se mais e mais escuro, passando pelo terracota, depois por todas incalculáveis nuances de vinho até que este cedia seu carmim aos tons de roxo, antes de findar ao negro que  tingia o buraco daí para baixo.
E nunca fora tão grandiosamente intransponível. Parecia que à medida que o tempo passava, este se aprofundava e alargava, e agora já era amedrontador. Uma fenda de proporções gigantescas, que imagino nem o mais bravos dos homens assumiria a tarefa de chegar à outra margem.
E não seria ela a tentar. Certamente não. Ela dizia em tom áspero, "Não querido. Não tente ultrapassar". Em sua voz se podia sentir o desconforto e a tristeza em ter que dizer tais palavras.
E em sua afobação, ele não arquitetava plano algum. Nenhuma mirabolante idéia lhe passava pela cabeça. Não pensava em atirar-se ao fundo precipício ou em lançar à outra margem um arpão, atado à uma corda e então atrelado à esta, dependurar-se e arrastar-se devagar até onde ela estava. Não. Só tinha em mente o problema e não vislumbrava solução alguma. Sentou-se desesperançoso em cima de seu problema, e com uma das mão apoiava a testa franzida enquanto que com a outra, trêmula, nervosamente dava pequenas batidas na coxa. Já não sabia mais como agir. Por vezes fazia menção ao choro que em nada ajudaria, e então concentrava-se como se fizesse força para conter as lágrimas e soltava um longo e profundo suspiro.
À margem oposta, debruçava-se ela com cautela. Temia cair mais do que a qualquer coisa e por isso não se arriscava. Por vezes se esgueirava bem próximo à beira, mas ao sentir o imenso temor da queda, recuava dois ou três passos até uma distância que julgava segura. Se salva-guardava por crer que sua vida era demasiado complicada e que não lhe permitia despencar. Sabia não ter tempo para a demorada convalescença que se seguiria e isso muito a atrapalharia.
Pessimista, ela rogava para que ele desistisse de uma vez. E mesmo com a pouca experiência que possuía, sabia que somente as preces não eram suficientes, e nem eram ato digno. De nada adiantaria orar. Vida à fora, tinha aprendido a falar o que lhe perturbava e há muito já tinha decidido não se calar ante o que não a fazia bem. Não unicamente em virtude do seu próprio bem estar, como também para ser justa e clara com as outras pessoas, quais mereciam tanto respeito quanto ela própria.
E por conta disso havia decidido gritar bem alto para que da outra margem, há muitos milhares de metros de onde ela se encontrava, ele pudesse lhe escutar claramente. "Não, querido, não tente cruzar o abismo pois assim só vai se machucar!"- Dizia, ou melhor, berrava ela na pontinha da beirada do precipício. Arriscou o máximo que pode, pé ante pé vagarosamente, até que ouviu o ruir das pedrinhas desabando debaixo de seus pés o que a fez recuar com  muito cuidado a fim de que o barranco não terminasse por ceder de vez.
E ele a ouviu. Alta e claramente. Não pode nem alegar não ter ouvido, pois sua feição indignada revelava que não só ouvira como concordava com ela. Era realmente muito perigoso. Ultrapassar seria dificílimo e há muito que temia ter de ser testado em qualquer situação que fosse. Tinha medo da prova tanto quanto da falha.
E ao ouvi-la, seu semblante não transformou-se tanto, bem como suas atitudes que permaneceram as mesmas. Jazia sentado, imóvel, ora a fitá-la, ora a buscar na imensa fenda o fim que não era possível avistar. Pensava consigo mesmo "Será que este buraco não tem fim? Será que existem buracos sem fim, que atravessam planeta a dentro e só terminam no outro lado do mundo?" E quanto mais se questionava, mais o pensar tolhia-lhe as forças, que por agora resumiam-se a quase nada, enfim a desesperança havia lhe preenchido o coração por completo.
Continuava sentado, e agora seus olhos vagavam mas nada viam. Nada chamava sua atenção, nem o notável alargar e aprofundar da fenda que provocava o afastar das margens, nem ela a espreitá-lo do lado aposto ansiando por um sinal qualquer de que estava tudo bem. Sabia esperar em vão.
Com as mãos juntas, ela apertava forte os dedos uns entre os outros. Erguia-se na ponta dos pés, sempre respeitando a distância de alguns passos do princípio do abismo, a fim de poder vê-lo mais claramente agora que a distância aumentara. Ou apenas para chamar-lhe a atenção.
Ainda gritou uma vez mais, desta vez com impaciência visto que das outras vezes não obtivera resposta à sua não-pergunta. "Está tudo bem, meu lindo?" Suas palavras se perdiam na imensidão e por saber que não haveria resposta, não tornou a repetir.
E ele, enfim retirou as mãos que há um tempo mantinha no rosto, juntou toda a força que lhe restava e  decididamente pôs-se de pé. Vagarosamente virou as costas para ela e o enorme vão que os separava e foi caminhando, seguindo na direção segura, a oposta. Foi embora, apertando o passo à medida que se afastava sem sequer olhar pra trás, sem qualquer pesar no coração.

quinta-feira, 24 de junho de 2010

Inquietação Devido à Sozinhês.

No dia de hoje resplandece a tranquilidade. O sol forte estampa a paisagem em diversas cores demasiado vívidas. As árvores refletem tons de verde-claro e dourado, devido à luz que incide sobre as folhagens de suas altas copas. O céu transpira um azul claríssimo, que por vezes se confunde com o branco ou prateado, e não há sequer uma só nuvem para comparar-lhes o pálido esbranquiçado. Sem dúvida é um excelente dia para um feriado.
E nos feriados e sábados à tarde que vejo o quanto sou só. Parafraseando um, diria, estou aqui com a minha sozinhês.
E é justo nesses momentos, os de extrema sozinhês, que sinto a falta do que seria estar com alguém. Já estivera antes, e apenas por isso sinto a falta. Como gostaria de nunca ter estado, e então agora somente não sentiria nada, na abençoada ignorância dos que desconhecem os fatos ou sensações por nunca os terem vivido.
Nos feriados e fins de semana é que lembro-me do quanto anseio pela não solidão. Não pelo fato de minha vida ser tão sem graça ao ponto que necessito desesperadamente de alguém para compartilhar os dias, muito pelo contrário. Apenas gostaria que existisse alguém como eu, um outro alguém que delicie-se com a simplicidade dos dias de folga, e que tenha sorrisos para dividir nos dias de pura e calma alegria como os dias de descanso.
Assim como para todos que trabalham e se ocupam a semana inteira, os feriados me são muito aguardados. Bem como os finais de semana. Dia após dia, olho o calendário e confiro quanto mais tenho de aguentar até que a semana termine. Curiosamente, o período que se entende por semana é exatamente o tempo que meu corpo e minha mente toleram a dilacerante rotina. Acredito se acaso a semana durasse um ou dois dias a mais, de certo não sobreviveria e sucumbiria aos afazeres de uma vez por todas.
E me alegram muito as semanas que displicentemente acabam. Aquelas que, ainda não entendo bem o porquê, são mais curtas do que outras ano à fora. As que quando se pergunta à alguém que dia é hoje, este te responde - "Quinta-feira!" Com a feição de espanto de quem viveu a semana toda, dia após dia, como todas as outras, com início, meio e fim e não compreende tal pergunta. E certamente, esta mesma pessoa, em outro momento sentirá o que sinto, ela também terá suas semanas mais curtas, e se espantará ao perceber, assim como eu.
E quando se pensa mal poder tolerar os cinco dias, eis que no calendário, quinta-feira, quando menos se espera, é feriado. Ah, como é doce!
E por vezes, acredito ser essa a extrema felicidade, a qual eu busco na vida. A simplicidade do aguardar ansiosamente o fim da semana, e refazer-me para poder vê-la novamente recomeçar.

terça-feira, 22 de junho de 2010

Ontem - parte III

Sua insurpresa não me intimidava. Nem a sua cara de malvado (até gosto quando ele faz cara de mau.) Quando veio abrir o portão, me perguntou, com toda indelicadeza que pôde juntar, o que eu estava fazendo ali. Tentava disfarçar a alegria de me ver e se concentrava apenas na raiva que sentia. E não me parecia pouca.
Em uma outra janela, sua mãe se debruçava curiosa para ver o que estava acontecendo. Pensava comigo mesma nas dimensões que tudo aquilo alcançara. Pensava no tamanho da minha estupidez, ao ouvir sua mãe dizer meu nome e perguntar o porquê de ainda não termos entrado.
E assim o fizemos. Muito nervosa, eu comentava a aventura passada no ônibus tentando amansar um pouco a situação. Estava com muita sede, pois o nervosismo me fazia suar as mãos e secava-me a boca. Pedi-lhe um copo d'água e então fomos até a cozinha. A má impressão era tanta, que podia jurar que, se houvesse oportunidade, poria veneno na água que me servia.
Do andar inferior, se podia escutar a guitarra da ilustre visita habilidosa tocando no quarto dele, o que nos fez ficar por ali mesmo. Tornou a perguntar o que eu fazia ali, mas o dizia tão alto que me acanhou muito. Lhe pedi para que falasse mais baixo, mas ele prosseguiu no mesmo volume, sem se importar que sua mãe, a avó ou o convidado escutassem. Implorei-lhe então, e ele nos levou ao quarto defronte à cozinha. Fechou a porta e pôs se a falar. Me pedia para que escutasse e não retrucasse como me é de costume.
Brigava comigo e tinha toda razão ao fazê-lo. Me acusava de ter duvidado de sua hombridade e de sua masculinidade. Julgava me boba e louca, e revirava tudo que tinha se passado nos meses anteriores sem medo algum de me magoar, e me dizia saber o que queria, porque queria e como queria.
Por vezes quis tocá-lo, o que ele negou veementemente. Não imaginava como ansiara tocá-lo, não poderia sequer supor o quanto eu precisava de seu afeto e de seu carinho. Continuou então a falar que sabia de meus compromisso e minhas responsabilidades, que sabia de meu filho e minhas obrigações como mãe.
Falou e falou por muito tempo, e quando mais uma vez quis tocá-lo, rapidamente sacou um grampeador que estava à mão e me ameaçou. Não podia crer naquilo. Tinha muito medo que me grampeasse, mas tal situação era propositalmente tão ridícula, que ambos nos pusemos a rir.
E seguia em dizer me o quanto certas atitudes minhas lhe eram como escárnio ou deboche. Ele não conseguia ver minha insegurança como eu via e para ele, era como se eu estivesse brincando com seus sentimentos. Minha não plenitude realmente me fazia tomar atitudes contraditórias. O meu querer e não querer alternavam-se tão instantâneamente que para outro que não eu mesma, de certo soaria como uma brincadeira de muito mal gosto.
Eu via que esta insegurança me fazia tanto quanto ou até mais mal do que à ele. E sei que antes ele sabia distinguir claramente, mas chegáramos ao momento que ele já não podia mais ver com os olhos sãos, olhos de quem assiste à tudo de longe e tem a praticidade do raciocínio lógico. Não mais. Agora ele apenas podia ver pela ótica afetiva e eu entendia que justo daí vinha toda sua raiva e a inevitável desistência.
Continuava a falar e a cada pausa que eu fiz buscando abraçá-lo, ele me ameaçou com diversas "armas" inusitadas, das mais absurdas como uma pistola de cola quente ou um Hard Disc antiquíssimo até as mais convencionais, como um pequeno pedaço pontiagudo de cano de pvc e um alicate de corte. Como era espirituoso!
Eu lhe dizia que era para seu próprio bem e ele, convicto, dizia-me para não pensar com sua cabeça. Afirmava que por várias vezes já tinha pensado em tudo o que eu inutilmente tentara convencê-lo de não lhe ser benigno e que estava certo. Me queria exatamente como eu era.
Ele nunca havia dito nada tão apropriado. Nunca tinha entendido tão bem minhas estúpidas súplicas por socorro como agora. Disse tudo o que eu precisava e ansiava desesperadamente ouvir.
Me disse então, enfático, que deveria decidir se o queria de verdade, o homem que ele era, ou que então parasse de insidiosamente querê-lo e que o fizesse para sempre. Do jeito que estava não haveria condições de continuar. E lhe dava toda e qualquer razão. Para mim também já se tornara pesado demais, certamente mais do que eu podia suportar.
Lágrimas me vieram aos olhos e senti um alívio que não conseguiria nunca descrever com exatidão. Como se um peso terrível me tivesse sido tirado das costas, uma tranquilidade grandiosa, que deu à minha gigantesca insegurança o peso que lhe cabia. E todas os meus sentimentos outra vez tomariam sua medida exata, sua forma original. Senti como se estivera durante muito tempo em uma gravidade diferente e as proporções de tudo que sentia estavam alteradas de maneira tal que já não sabia mais ao certo qual eram.
Senti como se de súbito pudesse sorrir. E sorri.



segunda-feira, 21 de junho de 2010

Ontem - parte II

Depois do almoço, assoberbada de pensamentos, mais uma vez deixei que o instinto me guiasse. E este, automaticamente fora diretamente ao encontro dele. Como se eu não previsse que seria isto que minha mente faria. De telefone em punho, pensei durante minutos enquanto olhava à janela o sol morno do lindo dia a fora.
Decidi então ligar com o único intuito de saber como estava. Mas não me atendera.
Pus a primeira roupa que encontrara pois não gostaria de me atrasar para o trabalho. Desci esbaforida a rua ainda envolta em pensamentos de prós e contras.
De certo ainda nada concluíra, e de que valia então assoberbar-me em pensamentos? Enquanto tentava friamente analisar a situação que me encontrava, volta e meia minha mente ia de encontro à ele. Pensava em prós e me vinha seu sorriso. Franco e bobo, por vezes o sorriso de menino levado, que quebrara um vaso com um chute mal calculado e em vão escondera tudo tentando evitar o castigo. E ria sozinha, lembrando de seu sorrir. Pensava em contras e me vinha a mente seus gestos estabanados que por vezes me machucavam mais o coração do que o corpo. E pensava em seu corpo, sua pele tão branca, porém leitosa, que não deixava transparecer veias. O branco opaco de sua pele era facilmente marcado por pequenas mordidas ou até mesmo apertos um pouco mais fortes.
Pusera The Killers para ser trilha sonora do caminho ao trabalho. Ouvia uma música, que dizia "don't you wanna come with me? don't you wanna feel my bones on your bones? It's only natural"¹.
Caminhava ao sol da tarde, apressadamente em passos que ritimava conforme a música. O ritmo era perfeito para a pressa do meu caminhar, cantarolava um tom acima do que julgava normal, o que fazia os transeuntes me olharem com um misto de curiosidade e espanto. E não me importava.
Segui até a parada do ônibus e esperei. Queria ainda ter tempo de poder ligar para ele antes de chegar ao trabalho. Em minha mente ainda ressoava o refrão "it's only natural". Me fazia lembrar dele, que havia escrito certa vez que "no jeito mais natural, dois carinhos se procuram", citando um dos meus poetas favoritos. E lembrava de sua bobice ao trocar a palavra carinho por caminho, e mudara com sua estabanadice o sentido de toda a frase. Ria-me sozinha e percebia que a minha vontade dele aumentava vertiginosamente. Precisava lhe falar, já não podia dar mais um passo sequer sem ter certeza de que não cultivava a raiva. Precisava lhe falar, não podia deixar que a raiva se instalasse, pois se caso isso acontecesse, não haveria mais motivo para pensar sobre nada. E se minha enorme vontade dele não fosse decisivo, o que mais haveria de ser?!
Liguei e me surpreendi quando atendeu, o acreditei que não faria caso estivesse chateado. Porém, sua voz transparecia, propositalmente, o que gostaria que eu soubesse. Não, não estava tudo bem. Perguntei-lhe só para confirmar o fato ou dar-lhe a oportunidade caso quisesse falar sobre algo que não lhe fora ainda aceito pelo sub-consciente após nossa triste conversa no dia anterior. Mas ele dispensou tal oportunidade, talvez por não ter nada que realmente quisesse comentar. Tudo lhe havia sido deglutido e encontrava-se agora com dor de estômago, devido a lenta digestão do que tínhamos dito um ao outro ontem. Mas por que então atendera?! Por que queria que eu soubesse da sua tristeza, ou da discordância de tudo que eu lhe havia exposto?!
Percebi exigir-lhe demais querendo que me tranquilizasse e quis então por um fim à conversa. De certa forma sua raiva me tranquilizava. Ela era uma reação natural, e incontestável prova de que compreendera o que havia lhe dito na noite anterior. Pensava comigo mesma, "O quer também?! Não se pode ter tudo!" Ao dispensar seu amor, certamente algum sentimento tomaria o seu lugar, e este era claramente o desgosto.
Entrei em sala e como quem veste uma máscara, me ocultei atrás de uma feição tranquila que mantive até o fim da aula.  Nunca demorara tanto e por diversas vezes passei o olho pelo relógio como se quisesse apressa-lo. Finalmente eram quatro e meia. Como tardara a chegar!
Sai porta à fora, com o típico sorriso de sexta-feira. E, antes mesmo de acender um cigarro, já estava com o telefone em punho. Precisava da certeza de que ele ainda estava em casa, pois depois dos vinte anos, só se deve fazer loucuras, ao menos, um pouco planejadas. 
E mais uma vez atendera ao telefone como quem ansiava e repugnava meu telefonema e o soar de minha voz. Tinha visita, o que pouco me importava, ou melhor, até me dava mais estímulo, pois sabia que não sairia de casa tão cedo, muito embora tivesse que se apresentar naquela mesma noite.
Aflita, fui à parada de ônibus, não queria tardar. Não mais que já tardara nesses meses que se passaram. Não poderia e nem deveria tardar. 
Desejei que o ônibus viesse bem rápido. Mas no meu desejo, esqueci de acrescentar que também queria que este viesse vazio, e eis que então viera e estava mais cheio do que de costume numa tarde de sexta-feira. E mais cheio do que de costume era quase que inaceitável. Como precisava sentar e refletir sobre o que estava ao ponto de fazer! Mas mal podia respirar entre tantas pessoas.
Uma senhora se ofereceu para segurar minha bolsa, na sua antipática cordialidade. Aceitei sem pestanejar e ainda antes, lembrei-me do quanto precisava de música e pus o player no bolso detrás da calça. A cada parada que o ônibus fazia, mais pessoas subiam e se aboletavam e me espantava a quantidade que este admitia.
E tantas pessoas entraram, que deu-se início o burburinho. Aumentei o volume o mais que pude, embora não pudesse deixar de ouvir vozes indistintas que repetiam "Meu Deus! Não cabe mais ninguém!" ou ainda "Motorista, não dá mais ninguém!".
Ainda faltavam dois pontos mais antes da minha casa. Era agora o momento único de decidir o que faria. Como queria vê-lo e como queria dizer-lhe que de nada mais importava todas as inseguranças que tinha, já o amava e o que fazer com tamanho amor se não amar?! Mas não queria invadi-lo, não queria morder e assoprar, como ele dizia que eu, volta e meia, costumava fazer.
Sim. Tinha de lhe falar. Mais ainda, tinha de lhe ouvir dizer o que quisera na noite anterior e não pudera. Mesmo que ele não tivesse mais a menor vontade de fazê-lo como eu já constatara ao telefone. Lhe obrigaria, com a minha presença. 
Ao descer do ônibus, o frio na barriga foi inevitável. Borboletas no estômago.
Atravessei a estrada, de um lado pro outro, uma dúzia de vezes, pois só havia estado lá uma unica vez e nem bem me recordava. Lembrava me apenas de chorar ao sair, das cores da tarde deste dia e do quanto desejei nunca mais voltar. Mas lembrar disso era inútil agora e de nada me ajudaria a achar a casa. O que não foi difícil.
Na porta, uma cachorrinha me recebia e pela janela do segundo andar podia vê-lo. Sim, eu estava certa. Como ele é bonito assim, ao olhar de quem observa e não sabe que é observado. Espontaneamente lindo.
Assoviei e instantaneamente ele me olhou. Sua feição era um misto de alegria, surpresa e obviedade. Parecia saber que eu iria, mas fingia surpresa.


¹ Você não quer vir comigo? Você não quer sentir meus osso nos seus ossos? É apenas natural.

sábado, 19 de junho de 2010

Preciso Pensar Sobre Isso.

Minha falta de habilidade em relaxar para as coisas não tão importantes me leva à chatice extrema. Ou como diria o EP do Projeto Secreto, intitulado "Mas há sempre pessoas dispostas a dar importância à coisas que não tem nenhuma."

Ontem - parte I

Sexta-feira, o mais aguardados dos dias, me chegou pesado. Fora uma semana exaustiva e ao despertar, pouco antes das seis, me vi mais uma vez tentando protelar o triste momento do levantar-me de encontro ao dia. Mais cinco minutinhos, dizia eu, tal qual quase todas as pessoas ao ouvirem o soar do terrível alarme que nos desperta incansavelmente ao longo das semanas, meses e anos. São os melhores e piores cinco minutos da vida de quem acorda cedo.
Mas o acordar afoito me é muito bem vindo, visto que não me resta tempo nem sanidade para a recorrente tristeza matinal.
Saí esbaforida, porta a fora, livro debaixo do braço, e a agradável companhia de Manuelito, Santiago e sua longa aventura no mar. Nem bem tivera tempo de tomar o habitual café com cigarro como nas manhãs mais amenas.
A narrativa me distanciava dos problemas mundanos, do trânsito caótico na Avenida Roberto Silveira, da inevitável troca de ônibus no terminal rodoviário e, é claro, da trágica noite anterior.
Na volta da aula, minha mente trabalhava afoita. Lamentava o término do livro que lia e me vinha ocupando a mente faziam dois dias. A delicadeza deste me dera uma visão muito suave dos pormenores da vida, aquele sentimento que se tem ao terminar a leitura de um romance como este ou ao assistir um bom filme. A singela sensação de que pode-se mudar a vida, a contemplação da moral da história, ou de como os personagem agiram magestosamente durante determinada situação que te preenche de esperança e otimismo, sentimentos muito valiosos.
E não haveria melhores sensações para estar envolta e finalmente repensar o que deveria e tanto protelava. Sentei-me à janela do ônibus, com as duas mãos a abri e senti a brisa fresca que tem estranhamente amornado à medida que adentramos o inverno. Estava um agradável término de manhã de junho.
Pus os fones nos ouvidos, mas não havia nada que eu realmente gostaria de escutar. É, esses pensamentos não possuíam trilha sonora. Eram para mim como cálculos matemáticos que necessitam tanta atenção que qualquer pequeno ruído facilmente me distrai. Por me serem difíceis, os julgo chatos e minha mente afoita trata logo de se distrair com outro assunto qualquer .Facilmente perco a concentração. Mas precisava pensar. Apaixonara-me e envolvera-me tanto que não sabia mais onde estava, como chegara ali ou como resolveria tal situação.
Mergulhei-me e submergi em pensamentos. Tentava em vão separá-los em uma espécie de ordem e lembrei me então o quanto gosto de listas e quem sabe não poderia listar os pensamentos e transformá-los no menor números de grupos possíveis. Dois talvez, como sim e não, ou por que sim e por que não. Pensei em prós e contras, não me importando com o quanto ridículo poderia soar, afinal não passava apenas de uma maneira de simplificar o que pensava.
Agora sim os pensamentos me pareciam ter um rumo e então comecei  a listar o que era pró e o que era contra tendo como base minha felicidade, minha sanidade e minha situação.
Obviamente o amor é sempre pró. Amar, ser amado e tudo que decorre disso. Tanto as sensações abstratas como o ser bem quisto e o bem querer, quanto as físicas como as descargas de adrenalina frequentes, decorrentes da paixão, ou a serotonina destilada pouco a pouco no cérebro que é detectada por inúmeras células, irrigando o corpo com  felicidade. Sim, o amor inauguraria a lista dos prós.
E devido ao meu pessimismo, imediatamente após um pró, me viria à mente um contra. Relacionar-se requer muito trabalho e esforço. Retidão a qual eu não tenho. Uma estabilidade emocional que me falta para poder manter um relacionamento, adicionada à enorme preguiça que tenho de nutrir uma relação nos seu dia a dia, nos seus entre-meios. Sim, relacionar-se dá muito trabalho.
Logo após um contra, me viera outro que me provocava náuseas. Ele tem apenas vinte anos. Não devo e tão pouco posso me desatar à isso. É como eu, há nove anos atrás, porém filho único, mimado por família e amigos, menos vivido, menos experiente, sem filho ou obrigações. Relacionou-se com a mesma moça, desde seus dezessete anos e, afora ela, não possuíra mais ninguém. O que o mimou ainda mais e o fez ser menos vivido do que algumas pessoas de sua idade. Não, definitivamente não era como eu há nove anos. Meus vinte anos foram há tanto tempo atrás! Isso me é um grande e pesado contra.
Forcei-me em pensar um ou dois prós, para contrabalançar.
Definitivamente, ele não é como outras pessoas. Ele é aquele tipo de pessoa que logo nota-se ser especial. Aqueles raros, que ao primeiro olhar se reconhece ter algo diferente, ainda que não se saiba ao certo o que é. Algo cintilante, misto de ternura e leveza. Que brilha e salta aos olhos, ofusca-te e te atordoa. Pessoas que são extasiantemente lindas por dentro e é uma beleza tão rara que te enobrece só de estar ao seu lado. Ele não é como ninguém. É fantásticamente lindo do dedão do pé à ultima ponta longínqua do mais comprido fio de cabelo. Ele resplandece! Certamente ele é um pró, e que vale por dois.
E ele me quer, acredito que me queira. Vejo que quer dividir sua fosforescência comigo. Ou apenas me acolher em sua luz, o que já seria fascinante. Sua companhia me ilumina, o que me alegra muito e me é muito distinta essa felicidade, mesmo nos momentos em que os contra me afligem, posso distingui-la e percebe-la dentre as inseguranças.
Pronto, dois prós consecutivos. Creio estar indo muito bem.
Volto um instante aos pensamentos mais práticos, visto que precisaria saltar na próxima parada. Como o tempo voara desde que entrei no ônibus! Puxo o sinal e peço várias licenças ao longo do estreito corredor até a porta da frente. Nas ruas cheias, caminhei em direção ao terminal, com o sorrir e a certeza de ter um saldo positivo. O próximo ônibus poderia tardar se quisesse, minha pequena felicidade me distrairia se assim acontecesse.
Mas não demorou muito. Entrei e sentei-me em movimentos tão automáticos que nem percebi onde sentara. Pouco importava.
Mais um contra me vem à mente. A estrutura de minha vida atual, não permite um solavanco sequer. Tenho de me concentrar no trabalho e na execução do que me propus estudar. Amor as vezes nos exaure por demais e, como disse antes, requer muito trabalho, o que me dispersaria do foco atual. Preciso trabalhar, estudar, ser mãe, aprender a acordar cedo e consequentemente dormir cedo. Necessito aprender a organizar minha rotina. E como este me é um treino difícil, requer muita concentração. Um relacionamento certamente me requereria dispor de muito esforço, e como tendo à um dramalhão, mais difíceis e trabalhosas se tornariam minhas metas.
Seguia meu trajeto e já estava em casa quando me dei conta. Pensava agora no fato de já estar apaixonada e não conseguiria assim, tão facilmente, me desapaixonar. Já sentia a sua falta e ansiava sua presença. Sua companhia já me era querida e os dias que seguiam já eram repletos de pensamentos sobre e para ele. Sim, ele já havia me cativado de tal forma que tudo jamais voltaria ao normal. Já havia chegado o momento que pode-se chamar de crucial, o momento em que se percebe que a partir dele será diferente, e antes dele já não é mais o mesmo. E eu já cruzara este ponto. Para sempre ele seria um marco memorável em minha vida. Já não eram mais momentos que se seguem, e sim como se agora existisse um antes e um depois. E depois dele, creio que nunca mais será como antes. Só não soube distinguir ao certo se isso era um pró ou um contra.

sexta-feira, 18 de junho de 2010

Preciso Pensar Sobre Isso.

E será que seguirei, rumo a velhice, afastando a todos que por azar-deles-cruzam meu caminho?!
Será que a minha incapacidade de amar por simplesmente amar afugentará todos à minha volta?!
Preciso pensar sobre isso.

Just Don't Fit (ou It ain't you, babe. No, no, no it ain't you babe...)

Como se estivera em um sonho, acordo e ao despertar vejo ele, que me olha com o desapontamento de quem estivera ali o tempo todo e não entendesse a minha surpresa.
E ali estava ele, profundamente dentro de mim, imerso em minha vida de uma tal maneira que me causara arrepios que percorriam toda a espinha, partindo da cabeça em direção ao dedão do pé, gélido devido ao tempo.
Me peguei pensando quando fora o momento em que relaxei, afrouxei as rédeas do meu eu e permiti que entrasse. O momento que deixara tudo ao encargo do sub consciente e, mais ainda, porque este me traíra assim tão descaradamente e me movera subitamente à tal situação tão insolúvel.
Meu instinto me leva a situações incontornáveis e, por vezes, me confunde de tal forma que me faz ter apenas uma unica certeza, a convicção da minha não plenitude, da minha não totalidade, do triste e infantil não conhecimento de mim mesma. O auto-desconhecimento. E este desconhecimento, esta ignorância do meu eu, me surpreende e me diminui.
Justo eu, que me julgava sábia conhecedora de nada além de mim mesma, fui pega em flagrante e tudo me fez repensar, tardiamente, o que supunha saber. Aliás, tudo que desconheço e acreditava em vão saber.
E então, me vi monossilábica, acanhada num canto, sem saber como tocá-lo e se deveria fazê-lo, tentando entender o momento em que tudo isso foi decidido, o momento prévio que veio a desencadear o instante de agora.
Não sou tão ignorante assim, ao ponto de não entender que o instante passado afetara o seguinte e assim sucessivamente, culminando no presente instante. Apenas não me parecia justo. Mas de certo era. O protelar do instante decisivo me encaminhara desenfreadamente ao desconforto do momento atual. Tamanho desconforto, sentia náuseas e a maldita, já conhecida, dor de estômago.
A angústia me consumia de tal forma que me pus a falar. A intimidade dos pensamentos e a complexidade de todo o meu raciocínio era demasiado pequena comparado ao mal estar que sentia. E falei por minutos que talvez tenham sido horas, e mais pareceram como anos. Anos luz de paranóias recorrentes que o deixaram boquiaberto, certamente me julgando muito boba.
A sua simplicidade me surpreendeu. Falava de tudo e com tanta clareza no que dizia e com tanta propriedade, que realmente me senti muito boba. A mais boba de todos os seres.
Certamente de nada adiantaria lamentar o momento, e de nada ajudaria percebê-lo somente agora, posto tudo. Mas fora o momento da descoberta, e antes a estúpida e tardia percepção do que prosseguir como vítima do acaso na ignorância cega de quem não vê apenas por não querer.
Repito para mim mesma, em voz alta, não me importando com o quão absurdo isso possa soar. "Não se pode ter tudo, não se pode ter tudo."
Está mais que certo que ele seja agradávelmente lindo, cativantemente  imaturo, extasiantemente eufórico, sedutoramente bobo, mas cabe a mim, apenas a mim e a ninguém mais, pesar as medidas e como que num vislumbre, prever o momento que se seguirá. Cabe a mim decidir o antes, para que não me apavore com o depois. Cabe a mim decidir.
Não que ele não combine comigo, não é isso. Apenas não combina com a minha vida.

segunda-feira, 14 de junho de 2010

Meu presente.

Dentre tudo, tudo que se possa imaginar, bolsas, sapatos, camisas e cachecol, livros, chaveiros, caixinhas e flores, biquínis, almofadas, bichinhos de pelúcia e anéis, brincos e cordões. De tudo, tudo que eu poderia ganhar de presente, eu ganhei uma música.
Não uma música qualquer, minha música. Escrita e composta para mim. Linda, perfeitinha. Gravada, produzida e mixada, para mim.
Fico acanhada e, ao ouvi-la, sinto o rubor corar a minha face. Sigo a letra no papel amassado, ainda querendo entender, como se pega o instante e transforma-o em música. Como um instante pode se tornar eterno. Fico com medo dos muitos instantes que cabem na vida. Deus me livre de alguém imortalizá-los e me assombrarem para todo o sempre!
Mas por sorte ou divindade, este instante me parece agradável.
Tento ainda adivinhar qual seria o meu instante, que não mais me pertencia e agora volta a me pertencer eternamente.
E é linda! Como música, tanto quanto em homenagem. Sei o quanto sou crítica, e o meu gostar é como consagração ao presente que era amável por si só.
Rio da dualidade de sentido na frase "She smiles like anyone". Ponho no tradutor apenas para me divertir. Tiro o ponto e ponho o ponto, leio e releio e rio muito. Apenas porque algo nisso deveria ser só meu, somente por isso, vejo a dualidade tão contrastante, exatamente oposta.
Ah, mas não somente por tal, mas também por ter proficiência na língua inglesa.
Ouço repetidas vezes enquanto escrevo. Os saborosos tecladinhos fofos e cor de rosa, a batidinha estilo banda marcial que me remete ao Sgt. Peppers, a melodia que de alguma estranha forma me é familiar, me preenche de lembranças da infância e me aquece o coração, tudo me inspira para um excelente 14 de junho!

quarta-feira, 9 de junho de 2010

Alvorecer

Como gostaria de acordar sem sentir saudade! O despertar me é triste desde quando criança. É a hora dos mortos, das saudades, das tristezas pra mim. Nada que dois cigarros e uma caneca de café não amansem para, ao longo do dia, tudo tomar as devidas proporções, ou proporções imaginárias, as que me permiti que tivessem, as que supostamente consigo suportar.
Mas é neste pequeno instante, nesse vislumbre inconsciente do novo dia, que me pesa e me fez forte, vida à fora. O subconsciente instante, incessante estado que me toma ao despertar, é amargo e poroso, permeado de mágoas, tristezas e arrependimentos. Dói dilacerantemente e, afortunadamente, meu estado de quase embriaguez matinal não me permite sofrer tanto.
Aos poucos vou recobrando a consciência e me consolando à medida do possível, aliviando o pesado fardo da culpa e da inabilidade, moldando em mim o difícil aprendizado de por tudo aos seus devidos lugares, de tomar a culpa que tenho, e deixar escapar o que não cabe a mim carregar, o que posso atribuir aos demais, ou ao universo-se assim for mais cômodo. Não que eu busque comodidade ou redimir-me, ao ausentar-me culpa, não mesmo. Mas de certo sei que a cada coisa, a cada ação, me cabe a minha parte, e a cada reação cabe a parte dos demais.

terça-feira, 8 de junho de 2010

Entre o almoço e uma corridinha no banco...

Hoje, infelizmente por estar na hora errada no lugar errado, presenciei um acidente envolvendo carro e moto, onde o motoqueiro foi arremessado à metros de altura. Poderia dizer no singular, metro, pois se tratou de apenas um metro e meio. "Apenas" somente para uma questão de medidas e correções ortográficas, porque ser arremessado de uma moto em movimento ao se chocar contra um carro, qualquer centímetro que seja, é absurdo. O corpo, tal qual fantoche, voou aos ares e caiu por sobre onde fora arremessado. O vôo deve ter tido a duração de pouquíssimos segundos, mas recordo de tudo ter acontecido em slow motion, vagarosamente me parecia encenado, e o vôo me parecia mais um corpo planando, brincando no ar, contrariando a lei primeira e unica, da gravidade a qual comanda todos nós. E desafiando a lei da fragilidade da vida, vejo o gajo levantar-se e por-se de pé, ainda assegurando aos presentes sua boa condição física, acalmando os apavorados espectadores da cena dantesca.
Ofereci-lhe a ajuda que podia, perguntei se queria uma ambulância ou qualquer outro tipo de socorro. Mas ele apenas sorriu e me disse que gostaria de fazer xixi. Lembro ainda de ter pensado "homem que é homem não faz xixi, mija."
Entramos juntos numa loja de esquina, onde as vendedoras apavoradas após terem assistido ao ocorrido, prontamente lhe apontaram o toalete. Ele correu para o banheiro. Deveria querer se certificar que estava tudo bem lá em baixo.
Segui meu caminho, de volta ao trabalho, e ele, o acidentado, seguiu o seu. Certamente mais dolorido e mais chocado com o que passara do que eu.