quarta-feira, 9 de junho de 2010

Alvorecer

Como gostaria de acordar sem sentir saudade! O despertar me é triste desde quando criança. É a hora dos mortos, das saudades, das tristezas pra mim. Nada que dois cigarros e uma caneca de café não amansem para, ao longo do dia, tudo tomar as devidas proporções, ou proporções imaginárias, as que me permiti que tivessem, as que supostamente consigo suportar.
Mas é neste pequeno instante, nesse vislumbre inconsciente do novo dia, que me pesa e me fez forte, vida à fora. O subconsciente instante, incessante estado que me toma ao despertar, é amargo e poroso, permeado de mágoas, tristezas e arrependimentos. Dói dilacerantemente e, afortunadamente, meu estado de quase embriaguez matinal não me permite sofrer tanto.
Aos poucos vou recobrando a consciência e me consolando à medida do possível, aliviando o pesado fardo da culpa e da inabilidade, moldando em mim o difícil aprendizado de por tudo aos seus devidos lugares, de tomar a culpa que tenho, e deixar escapar o que não cabe a mim carregar, o que posso atribuir aos demais, ou ao universo-se assim for mais cômodo. Não que eu busque comodidade ou redimir-me, ao ausentar-me culpa, não mesmo. Mas de certo sei que a cada coisa, a cada ação, me cabe a minha parte, e a cada reação cabe a parte dos demais.

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