quinta-feira, 24 de junho de 2010

Inquietação Devido à Sozinhês.

No dia de hoje resplandece a tranquilidade. O sol forte estampa a paisagem em diversas cores demasiado vívidas. As árvores refletem tons de verde-claro e dourado, devido à luz que incide sobre as folhagens de suas altas copas. O céu transpira um azul claríssimo, que por vezes se confunde com o branco ou prateado, e não há sequer uma só nuvem para comparar-lhes o pálido esbranquiçado. Sem dúvida é um excelente dia para um feriado.
E nos feriados e sábados à tarde que vejo o quanto sou só. Parafraseando um, diria, estou aqui com a minha sozinhês.
E é justo nesses momentos, os de extrema sozinhês, que sinto a falta do que seria estar com alguém. Já estivera antes, e apenas por isso sinto a falta. Como gostaria de nunca ter estado, e então agora somente não sentiria nada, na abençoada ignorância dos que desconhecem os fatos ou sensações por nunca os terem vivido.
Nos feriados e fins de semana é que lembro-me do quanto anseio pela não solidão. Não pelo fato de minha vida ser tão sem graça ao ponto que necessito desesperadamente de alguém para compartilhar os dias, muito pelo contrário. Apenas gostaria que existisse alguém como eu, um outro alguém que delicie-se com a simplicidade dos dias de folga, e que tenha sorrisos para dividir nos dias de pura e calma alegria como os dias de descanso.
Assim como para todos que trabalham e se ocupam a semana inteira, os feriados me são muito aguardados. Bem como os finais de semana. Dia após dia, olho o calendário e confiro quanto mais tenho de aguentar até que a semana termine. Curiosamente, o período que se entende por semana é exatamente o tempo que meu corpo e minha mente toleram a dilacerante rotina. Acredito se acaso a semana durasse um ou dois dias a mais, de certo não sobreviveria e sucumbiria aos afazeres de uma vez por todas.
E me alegram muito as semanas que displicentemente acabam. Aquelas que, ainda não entendo bem o porquê, são mais curtas do que outras ano à fora. As que quando se pergunta à alguém que dia é hoje, este te responde - "Quinta-feira!" Com a feição de espanto de quem viveu a semana toda, dia após dia, como todas as outras, com início, meio e fim e não compreende tal pergunta. E certamente, esta mesma pessoa, em outro momento sentirá o que sinto, ela também terá suas semanas mais curtas, e se espantará ao perceber, assim como eu.
E quando se pensa mal poder tolerar os cinco dias, eis que no calendário, quinta-feira, quando menos se espera, é feriado. Ah, como é doce!
E por vezes, acredito ser essa a extrema felicidade, a qual eu busco na vida. A simplicidade do aguardar ansiosamente o fim da semana, e refazer-me para poder vê-la novamente recomeçar.

terça-feira, 22 de junho de 2010

Ontem - parte III

Sua insurpresa não me intimidava. Nem a sua cara de malvado (até gosto quando ele faz cara de mau.) Quando veio abrir o portão, me perguntou, com toda indelicadeza que pôde juntar, o que eu estava fazendo ali. Tentava disfarçar a alegria de me ver e se concentrava apenas na raiva que sentia. E não me parecia pouca.
Em uma outra janela, sua mãe se debruçava curiosa para ver o que estava acontecendo. Pensava comigo mesma nas dimensões que tudo aquilo alcançara. Pensava no tamanho da minha estupidez, ao ouvir sua mãe dizer meu nome e perguntar o porquê de ainda não termos entrado.
E assim o fizemos. Muito nervosa, eu comentava a aventura passada no ônibus tentando amansar um pouco a situação. Estava com muita sede, pois o nervosismo me fazia suar as mãos e secava-me a boca. Pedi-lhe um copo d'água e então fomos até a cozinha. A má impressão era tanta, que podia jurar que, se houvesse oportunidade, poria veneno na água que me servia.
Do andar inferior, se podia escutar a guitarra da ilustre visita habilidosa tocando no quarto dele, o que nos fez ficar por ali mesmo. Tornou a perguntar o que eu fazia ali, mas o dizia tão alto que me acanhou muito. Lhe pedi para que falasse mais baixo, mas ele prosseguiu no mesmo volume, sem se importar que sua mãe, a avó ou o convidado escutassem. Implorei-lhe então, e ele nos levou ao quarto defronte à cozinha. Fechou a porta e pôs se a falar. Me pedia para que escutasse e não retrucasse como me é de costume.
Brigava comigo e tinha toda razão ao fazê-lo. Me acusava de ter duvidado de sua hombridade e de sua masculinidade. Julgava me boba e louca, e revirava tudo que tinha se passado nos meses anteriores sem medo algum de me magoar, e me dizia saber o que queria, porque queria e como queria.
Por vezes quis tocá-lo, o que ele negou veementemente. Não imaginava como ansiara tocá-lo, não poderia sequer supor o quanto eu precisava de seu afeto e de seu carinho. Continuou então a falar que sabia de meus compromisso e minhas responsabilidades, que sabia de meu filho e minhas obrigações como mãe.
Falou e falou por muito tempo, e quando mais uma vez quis tocá-lo, rapidamente sacou um grampeador que estava à mão e me ameaçou. Não podia crer naquilo. Tinha muito medo que me grampeasse, mas tal situação era propositalmente tão ridícula, que ambos nos pusemos a rir.
E seguia em dizer me o quanto certas atitudes minhas lhe eram como escárnio ou deboche. Ele não conseguia ver minha insegurança como eu via e para ele, era como se eu estivesse brincando com seus sentimentos. Minha não plenitude realmente me fazia tomar atitudes contraditórias. O meu querer e não querer alternavam-se tão instantâneamente que para outro que não eu mesma, de certo soaria como uma brincadeira de muito mal gosto.
Eu via que esta insegurança me fazia tanto quanto ou até mais mal do que à ele. E sei que antes ele sabia distinguir claramente, mas chegáramos ao momento que ele já não podia mais ver com os olhos sãos, olhos de quem assiste à tudo de longe e tem a praticidade do raciocínio lógico. Não mais. Agora ele apenas podia ver pela ótica afetiva e eu entendia que justo daí vinha toda sua raiva e a inevitável desistência.
Continuava a falar e a cada pausa que eu fiz buscando abraçá-lo, ele me ameaçou com diversas "armas" inusitadas, das mais absurdas como uma pistola de cola quente ou um Hard Disc antiquíssimo até as mais convencionais, como um pequeno pedaço pontiagudo de cano de pvc e um alicate de corte. Como era espirituoso!
Eu lhe dizia que era para seu próprio bem e ele, convicto, dizia-me para não pensar com sua cabeça. Afirmava que por várias vezes já tinha pensado em tudo o que eu inutilmente tentara convencê-lo de não lhe ser benigno e que estava certo. Me queria exatamente como eu era.
Ele nunca havia dito nada tão apropriado. Nunca tinha entendido tão bem minhas estúpidas súplicas por socorro como agora. Disse tudo o que eu precisava e ansiava desesperadamente ouvir.
Me disse então, enfático, que deveria decidir se o queria de verdade, o homem que ele era, ou que então parasse de insidiosamente querê-lo e que o fizesse para sempre. Do jeito que estava não haveria condições de continuar. E lhe dava toda e qualquer razão. Para mim também já se tornara pesado demais, certamente mais do que eu podia suportar.
Lágrimas me vieram aos olhos e senti um alívio que não conseguiria nunca descrever com exatidão. Como se um peso terrível me tivesse sido tirado das costas, uma tranquilidade grandiosa, que deu à minha gigantesca insegurança o peso que lhe cabia. E todas os meus sentimentos outra vez tomariam sua medida exata, sua forma original. Senti como se estivera durante muito tempo em uma gravidade diferente e as proporções de tudo que sentia estavam alteradas de maneira tal que já não sabia mais ao certo qual eram.
Senti como se de súbito pudesse sorrir. E sorri.



segunda-feira, 21 de junho de 2010

Ontem - parte II

Depois do almoço, assoberbada de pensamentos, mais uma vez deixei que o instinto me guiasse. E este, automaticamente fora diretamente ao encontro dele. Como se eu não previsse que seria isto que minha mente faria. De telefone em punho, pensei durante minutos enquanto olhava à janela o sol morno do lindo dia a fora.
Decidi então ligar com o único intuito de saber como estava. Mas não me atendera.
Pus a primeira roupa que encontrara pois não gostaria de me atrasar para o trabalho. Desci esbaforida a rua ainda envolta em pensamentos de prós e contras.
De certo ainda nada concluíra, e de que valia então assoberbar-me em pensamentos? Enquanto tentava friamente analisar a situação que me encontrava, volta e meia minha mente ia de encontro à ele. Pensava em prós e me vinha seu sorriso. Franco e bobo, por vezes o sorriso de menino levado, que quebrara um vaso com um chute mal calculado e em vão escondera tudo tentando evitar o castigo. E ria sozinha, lembrando de seu sorrir. Pensava em contras e me vinha a mente seus gestos estabanados que por vezes me machucavam mais o coração do que o corpo. E pensava em seu corpo, sua pele tão branca, porém leitosa, que não deixava transparecer veias. O branco opaco de sua pele era facilmente marcado por pequenas mordidas ou até mesmo apertos um pouco mais fortes.
Pusera The Killers para ser trilha sonora do caminho ao trabalho. Ouvia uma música, que dizia "don't you wanna come with me? don't you wanna feel my bones on your bones? It's only natural"¹.
Caminhava ao sol da tarde, apressadamente em passos que ritimava conforme a música. O ritmo era perfeito para a pressa do meu caminhar, cantarolava um tom acima do que julgava normal, o que fazia os transeuntes me olharem com um misto de curiosidade e espanto. E não me importava.
Segui até a parada do ônibus e esperei. Queria ainda ter tempo de poder ligar para ele antes de chegar ao trabalho. Em minha mente ainda ressoava o refrão "it's only natural". Me fazia lembrar dele, que havia escrito certa vez que "no jeito mais natural, dois carinhos se procuram", citando um dos meus poetas favoritos. E lembrava de sua bobice ao trocar a palavra carinho por caminho, e mudara com sua estabanadice o sentido de toda a frase. Ria-me sozinha e percebia que a minha vontade dele aumentava vertiginosamente. Precisava lhe falar, já não podia dar mais um passo sequer sem ter certeza de que não cultivava a raiva. Precisava lhe falar, não podia deixar que a raiva se instalasse, pois se caso isso acontecesse, não haveria mais motivo para pensar sobre nada. E se minha enorme vontade dele não fosse decisivo, o que mais haveria de ser?!
Liguei e me surpreendi quando atendeu, o acreditei que não faria caso estivesse chateado. Porém, sua voz transparecia, propositalmente, o que gostaria que eu soubesse. Não, não estava tudo bem. Perguntei-lhe só para confirmar o fato ou dar-lhe a oportunidade caso quisesse falar sobre algo que não lhe fora ainda aceito pelo sub-consciente após nossa triste conversa no dia anterior. Mas ele dispensou tal oportunidade, talvez por não ter nada que realmente quisesse comentar. Tudo lhe havia sido deglutido e encontrava-se agora com dor de estômago, devido a lenta digestão do que tínhamos dito um ao outro ontem. Mas por que então atendera?! Por que queria que eu soubesse da sua tristeza, ou da discordância de tudo que eu lhe havia exposto?!
Percebi exigir-lhe demais querendo que me tranquilizasse e quis então por um fim à conversa. De certa forma sua raiva me tranquilizava. Ela era uma reação natural, e incontestável prova de que compreendera o que havia lhe dito na noite anterior. Pensava comigo mesma, "O quer também?! Não se pode ter tudo!" Ao dispensar seu amor, certamente algum sentimento tomaria o seu lugar, e este era claramente o desgosto.
Entrei em sala e como quem veste uma máscara, me ocultei atrás de uma feição tranquila que mantive até o fim da aula.  Nunca demorara tanto e por diversas vezes passei o olho pelo relógio como se quisesse apressa-lo. Finalmente eram quatro e meia. Como tardara a chegar!
Sai porta à fora, com o típico sorriso de sexta-feira. E, antes mesmo de acender um cigarro, já estava com o telefone em punho. Precisava da certeza de que ele ainda estava em casa, pois depois dos vinte anos, só se deve fazer loucuras, ao menos, um pouco planejadas. 
E mais uma vez atendera ao telefone como quem ansiava e repugnava meu telefonema e o soar de minha voz. Tinha visita, o que pouco me importava, ou melhor, até me dava mais estímulo, pois sabia que não sairia de casa tão cedo, muito embora tivesse que se apresentar naquela mesma noite.
Aflita, fui à parada de ônibus, não queria tardar. Não mais que já tardara nesses meses que se passaram. Não poderia e nem deveria tardar. 
Desejei que o ônibus viesse bem rápido. Mas no meu desejo, esqueci de acrescentar que também queria que este viesse vazio, e eis que então viera e estava mais cheio do que de costume numa tarde de sexta-feira. E mais cheio do que de costume era quase que inaceitável. Como precisava sentar e refletir sobre o que estava ao ponto de fazer! Mas mal podia respirar entre tantas pessoas.
Uma senhora se ofereceu para segurar minha bolsa, na sua antipática cordialidade. Aceitei sem pestanejar e ainda antes, lembrei-me do quanto precisava de música e pus o player no bolso detrás da calça. A cada parada que o ônibus fazia, mais pessoas subiam e se aboletavam e me espantava a quantidade que este admitia.
E tantas pessoas entraram, que deu-se início o burburinho. Aumentei o volume o mais que pude, embora não pudesse deixar de ouvir vozes indistintas que repetiam "Meu Deus! Não cabe mais ninguém!" ou ainda "Motorista, não dá mais ninguém!".
Ainda faltavam dois pontos mais antes da minha casa. Era agora o momento único de decidir o que faria. Como queria vê-lo e como queria dizer-lhe que de nada mais importava todas as inseguranças que tinha, já o amava e o que fazer com tamanho amor se não amar?! Mas não queria invadi-lo, não queria morder e assoprar, como ele dizia que eu, volta e meia, costumava fazer.
Sim. Tinha de lhe falar. Mais ainda, tinha de lhe ouvir dizer o que quisera na noite anterior e não pudera. Mesmo que ele não tivesse mais a menor vontade de fazê-lo como eu já constatara ao telefone. Lhe obrigaria, com a minha presença. 
Ao descer do ônibus, o frio na barriga foi inevitável. Borboletas no estômago.
Atravessei a estrada, de um lado pro outro, uma dúzia de vezes, pois só havia estado lá uma unica vez e nem bem me recordava. Lembrava me apenas de chorar ao sair, das cores da tarde deste dia e do quanto desejei nunca mais voltar. Mas lembrar disso era inútil agora e de nada me ajudaria a achar a casa. O que não foi difícil.
Na porta, uma cachorrinha me recebia e pela janela do segundo andar podia vê-lo. Sim, eu estava certa. Como ele é bonito assim, ao olhar de quem observa e não sabe que é observado. Espontaneamente lindo.
Assoviei e instantaneamente ele me olhou. Sua feição era um misto de alegria, surpresa e obviedade. Parecia saber que eu iria, mas fingia surpresa.


¹ Você não quer vir comigo? Você não quer sentir meus osso nos seus ossos? É apenas natural.

sábado, 19 de junho de 2010

Preciso Pensar Sobre Isso.

Minha falta de habilidade em relaxar para as coisas não tão importantes me leva à chatice extrema. Ou como diria o EP do Projeto Secreto, intitulado "Mas há sempre pessoas dispostas a dar importância à coisas que não tem nenhuma."

Ontem - parte I

Sexta-feira, o mais aguardados dos dias, me chegou pesado. Fora uma semana exaustiva e ao despertar, pouco antes das seis, me vi mais uma vez tentando protelar o triste momento do levantar-me de encontro ao dia. Mais cinco minutinhos, dizia eu, tal qual quase todas as pessoas ao ouvirem o soar do terrível alarme que nos desperta incansavelmente ao longo das semanas, meses e anos. São os melhores e piores cinco minutos da vida de quem acorda cedo.
Mas o acordar afoito me é muito bem vindo, visto que não me resta tempo nem sanidade para a recorrente tristeza matinal.
Saí esbaforida, porta a fora, livro debaixo do braço, e a agradável companhia de Manuelito, Santiago e sua longa aventura no mar. Nem bem tivera tempo de tomar o habitual café com cigarro como nas manhãs mais amenas.
A narrativa me distanciava dos problemas mundanos, do trânsito caótico na Avenida Roberto Silveira, da inevitável troca de ônibus no terminal rodoviário e, é claro, da trágica noite anterior.
Na volta da aula, minha mente trabalhava afoita. Lamentava o término do livro que lia e me vinha ocupando a mente faziam dois dias. A delicadeza deste me dera uma visão muito suave dos pormenores da vida, aquele sentimento que se tem ao terminar a leitura de um romance como este ou ao assistir um bom filme. A singela sensação de que pode-se mudar a vida, a contemplação da moral da história, ou de como os personagem agiram magestosamente durante determinada situação que te preenche de esperança e otimismo, sentimentos muito valiosos.
E não haveria melhores sensações para estar envolta e finalmente repensar o que deveria e tanto protelava. Sentei-me à janela do ônibus, com as duas mãos a abri e senti a brisa fresca que tem estranhamente amornado à medida que adentramos o inverno. Estava um agradável término de manhã de junho.
Pus os fones nos ouvidos, mas não havia nada que eu realmente gostaria de escutar. É, esses pensamentos não possuíam trilha sonora. Eram para mim como cálculos matemáticos que necessitam tanta atenção que qualquer pequeno ruído facilmente me distrai. Por me serem difíceis, os julgo chatos e minha mente afoita trata logo de se distrair com outro assunto qualquer .Facilmente perco a concentração. Mas precisava pensar. Apaixonara-me e envolvera-me tanto que não sabia mais onde estava, como chegara ali ou como resolveria tal situação.
Mergulhei-me e submergi em pensamentos. Tentava em vão separá-los em uma espécie de ordem e lembrei me então o quanto gosto de listas e quem sabe não poderia listar os pensamentos e transformá-los no menor números de grupos possíveis. Dois talvez, como sim e não, ou por que sim e por que não. Pensei em prós e contras, não me importando com o quanto ridículo poderia soar, afinal não passava apenas de uma maneira de simplificar o que pensava.
Agora sim os pensamentos me pareciam ter um rumo e então comecei  a listar o que era pró e o que era contra tendo como base minha felicidade, minha sanidade e minha situação.
Obviamente o amor é sempre pró. Amar, ser amado e tudo que decorre disso. Tanto as sensações abstratas como o ser bem quisto e o bem querer, quanto as físicas como as descargas de adrenalina frequentes, decorrentes da paixão, ou a serotonina destilada pouco a pouco no cérebro que é detectada por inúmeras células, irrigando o corpo com  felicidade. Sim, o amor inauguraria a lista dos prós.
E devido ao meu pessimismo, imediatamente após um pró, me viria à mente um contra. Relacionar-se requer muito trabalho e esforço. Retidão a qual eu não tenho. Uma estabilidade emocional que me falta para poder manter um relacionamento, adicionada à enorme preguiça que tenho de nutrir uma relação nos seu dia a dia, nos seus entre-meios. Sim, relacionar-se dá muito trabalho.
Logo após um contra, me viera outro que me provocava náuseas. Ele tem apenas vinte anos. Não devo e tão pouco posso me desatar à isso. É como eu, há nove anos atrás, porém filho único, mimado por família e amigos, menos vivido, menos experiente, sem filho ou obrigações. Relacionou-se com a mesma moça, desde seus dezessete anos e, afora ela, não possuíra mais ninguém. O que o mimou ainda mais e o fez ser menos vivido do que algumas pessoas de sua idade. Não, definitivamente não era como eu há nove anos. Meus vinte anos foram há tanto tempo atrás! Isso me é um grande e pesado contra.
Forcei-me em pensar um ou dois prós, para contrabalançar.
Definitivamente, ele não é como outras pessoas. Ele é aquele tipo de pessoa que logo nota-se ser especial. Aqueles raros, que ao primeiro olhar se reconhece ter algo diferente, ainda que não se saiba ao certo o que é. Algo cintilante, misto de ternura e leveza. Que brilha e salta aos olhos, ofusca-te e te atordoa. Pessoas que são extasiantemente lindas por dentro e é uma beleza tão rara que te enobrece só de estar ao seu lado. Ele não é como ninguém. É fantásticamente lindo do dedão do pé à ultima ponta longínqua do mais comprido fio de cabelo. Ele resplandece! Certamente ele é um pró, e que vale por dois.
E ele me quer, acredito que me queira. Vejo que quer dividir sua fosforescência comigo. Ou apenas me acolher em sua luz, o que já seria fascinante. Sua companhia me ilumina, o que me alegra muito e me é muito distinta essa felicidade, mesmo nos momentos em que os contra me afligem, posso distingui-la e percebe-la dentre as inseguranças.
Pronto, dois prós consecutivos. Creio estar indo muito bem.
Volto um instante aos pensamentos mais práticos, visto que precisaria saltar na próxima parada. Como o tempo voara desde que entrei no ônibus! Puxo o sinal e peço várias licenças ao longo do estreito corredor até a porta da frente. Nas ruas cheias, caminhei em direção ao terminal, com o sorrir e a certeza de ter um saldo positivo. O próximo ônibus poderia tardar se quisesse, minha pequena felicidade me distrairia se assim acontecesse.
Mas não demorou muito. Entrei e sentei-me em movimentos tão automáticos que nem percebi onde sentara. Pouco importava.
Mais um contra me vem à mente. A estrutura de minha vida atual, não permite um solavanco sequer. Tenho de me concentrar no trabalho e na execução do que me propus estudar. Amor as vezes nos exaure por demais e, como disse antes, requer muito trabalho, o que me dispersaria do foco atual. Preciso trabalhar, estudar, ser mãe, aprender a acordar cedo e consequentemente dormir cedo. Necessito aprender a organizar minha rotina. E como este me é um treino difícil, requer muita concentração. Um relacionamento certamente me requereria dispor de muito esforço, e como tendo à um dramalhão, mais difíceis e trabalhosas se tornariam minhas metas.
Seguia meu trajeto e já estava em casa quando me dei conta. Pensava agora no fato de já estar apaixonada e não conseguiria assim, tão facilmente, me desapaixonar. Já sentia a sua falta e ansiava sua presença. Sua companhia já me era querida e os dias que seguiam já eram repletos de pensamentos sobre e para ele. Sim, ele já havia me cativado de tal forma que tudo jamais voltaria ao normal. Já havia chegado o momento que pode-se chamar de crucial, o momento em que se percebe que a partir dele será diferente, e antes dele já não é mais o mesmo. E eu já cruzara este ponto. Para sempre ele seria um marco memorável em minha vida. Já não eram mais momentos que se seguem, e sim como se agora existisse um antes e um depois. E depois dele, creio que nunca mais será como antes. Só não soube distinguir ao certo se isso era um pró ou um contra.

sexta-feira, 18 de junho de 2010

Preciso Pensar Sobre Isso.

E será que seguirei, rumo a velhice, afastando a todos que por azar-deles-cruzam meu caminho?!
Será que a minha incapacidade de amar por simplesmente amar afugentará todos à minha volta?!
Preciso pensar sobre isso.

Just Don't Fit (ou It ain't you, babe. No, no, no it ain't you babe...)

Como se estivera em um sonho, acordo e ao despertar vejo ele, que me olha com o desapontamento de quem estivera ali o tempo todo e não entendesse a minha surpresa.
E ali estava ele, profundamente dentro de mim, imerso em minha vida de uma tal maneira que me causara arrepios que percorriam toda a espinha, partindo da cabeça em direção ao dedão do pé, gélido devido ao tempo.
Me peguei pensando quando fora o momento em que relaxei, afrouxei as rédeas do meu eu e permiti que entrasse. O momento que deixara tudo ao encargo do sub consciente e, mais ainda, porque este me traíra assim tão descaradamente e me movera subitamente à tal situação tão insolúvel.
Meu instinto me leva a situações incontornáveis e, por vezes, me confunde de tal forma que me faz ter apenas uma unica certeza, a convicção da minha não plenitude, da minha não totalidade, do triste e infantil não conhecimento de mim mesma. O auto-desconhecimento. E este desconhecimento, esta ignorância do meu eu, me surpreende e me diminui.
Justo eu, que me julgava sábia conhecedora de nada além de mim mesma, fui pega em flagrante e tudo me fez repensar, tardiamente, o que supunha saber. Aliás, tudo que desconheço e acreditava em vão saber.
E então, me vi monossilábica, acanhada num canto, sem saber como tocá-lo e se deveria fazê-lo, tentando entender o momento em que tudo isso foi decidido, o momento prévio que veio a desencadear o instante de agora.
Não sou tão ignorante assim, ao ponto de não entender que o instante passado afetara o seguinte e assim sucessivamente, culminando no presente instante. Apenas não me parecia justo. Mas de certo era. O protelar do instante decisivo me encaminhara desenfreadamente ao desconforto do momento atual. Tamanho desconforto, sentia náuseas e a maldita, já conhecida, dor de estômago.
A angústia me consumia de tal forma que me pus a falar. A intimidade dos pensamentos e a complexidade de todo o meu raciocínio era demasiado pequena comparado ao mal estar que sentia. E falei por minutos que talvez tenham sido horas, e mais pareceram como anos. Anos luz de paranóias recorrentes que o deixaram boquiaberto, certamente me julgando muito boba.
A sua simplicidade me surpreendeu. Falava de tudo e com tanta clareza no que dizia e com tanta propriedade, que realmente me senti muito boba. A mais boba de todos os seres.
Certamente de nada adiantaria lamentar o momento, e de nada ajudaria percebê-lo somente agora, posto tudo. Mas fora o momento da descoberta, e antes a estúpida e tardia percepção do que prosseguir como vítima do acaso na ignorância cega de quem não vê apenas por não querer.
Repito para mim mesma, em voz alta, não me importando com o quão absurdo isso possa soar. "Não se pode ter tudo, não se pode ter tudo."
Está mais que certo que ele seja agradávelmente lindo, cativantemente  imaturo, extasiantemente eufórico, sedutoramente bobo, mas cabe a mim, apenas a mim e a ninguém mais, pesar as medidas e como que num vislumbre, prever o momento que se seguirá. Cabe a mim decidir o antes, para que não me apavore com o depois. Cabe a mim decidir.
Não que ele não combine comigo, não é isso. Apenas não combina com a minha vida.

segunda-feira, 14 de junho de 2010

Meu presente.

Dentre tudo, tudo que se possa imaginar, bolsas, sapatos, camisas e cachecol, livros, chaveiros, caixinhas e flores, biquínis, almofadas, bichinhos de pelúcia e anéis, brincos e cordões. De tudo, tudo que eu poderia ganhar de presente, eu ganhei uma música.
Não uma música qualquer, minha música. Escrita e composta para mim. Linda, perfeitinha. Gravada, produzida e mixada, para mim.
Fico acanhada e, ao ouvi-la, sinto o rubor corar a minha face. Sigo a letra no papel amassado, ainda querendo entender, como se pega o instante e transforma-o em música. Como um instante pode se tornar eterno. Fico com medo dos muitos instantes que cabem na vida. Deus me livre de alguém imortalizá-los e me assombrarem para todo o sempre!
Mas por sorte ou divindade, este instante me parece agradável.
Tento ainda adivinhar qual seria o meu instante, que não mais me pertencia e agora volta a me pertencer eternamente.
E é linda! Como música, tanto quanto em homenagem. Sei o quanto sou crítica, e o meu gostar é como consagração ao presente que era amável por si só.
Rio da dualidade de sentido na frase "She smiles like anyone". Ponho no tradutor apenas para me divertir. Tiro o ponto e ponho o ponto, leio e releio e rio muito. Apenas porque algo nisso deveria ser só meu, somente por isso, vejo a dualidade tão contrastante, exatamente oposta.
Ah, mas não somente por tal, mas também por ter proficiência na língua inglesa.
Ouço repetidas vezes enquanto escrevo. Os saborosos tecladinhos fofos e cor de rosa, a batidinha estilo banda marcial que me remete ao Sgt. Peppers, a melodia que de alguma estranha forma me é familiar, me preenche de lembranças da infância e me aquece o coração, tudo me inspira para um excelente 14 de junho!

quarta-feira, 9 de junho de 2010

Alvorecer

Como gostaria de acordar sem sentir saudade! O despertar me é triste desde quando criança. É a hora dos mortos, das saudades, das tristezas pra mim. Nada que dois cigarros e uma caneca de café não amansem para, ao longo do dia, tudo tomar as devidas proporções, ou proporções imaginárias, as que me permiti que tivessem, as que supostamente consigo suportar.
Mas é neste pequeno instante, nesse vislumbre inconsciente do novo dia, que me pesa e me fez forte, vida à fora. O subconsciente instante, incessante estado que me toma ao despertar, é amargo e poroso, permeado de mágoas, tristezas e arrependimentos. Dói dilacerantemente e, afortunadamente, meu estado de quase embriaguez matinal não me permite sofrer tanto.
Aos poucos vou recobrando a consciência e me consolando à medida do possível, aliviando o pesado fardo da culpa e da inabilidade, moldando em mim o difícil aprendizado de por tudo aos seus devidos lugares, de tomar a culpa que tenho, e deixar escapar o que não cabe a mim carregar, o que posso atribuir aos demais, ou ao universo-se assim for mais cômodo. Não que eu busque comodidade ou redimir-me, ao ausentar-me culpa, não mesmo. Mas de certo sei que a cada coisa, a cada ação, me cabe a minha parte, e a cada reação cabe a parte dos demais.

terça-feira, 8 de junho de 2010

Entre o almoço e uma corridinha no banco...

Hoje, infelizmente por estar na hora errada no lugar errado, presenciei um acidente envolvendo carro e moto, onde o motoqueiro foi arremessado à metros de altura. Poderia dizer no singular, metro, pois se tratou de apenas um metro e meio. "Apenas" somente para uma questão de medidas e correções ortográficas, porque ser arremessado de uma moto em movimento ao se chocar contra um carro, qualquer centímetro que seja, é absurdo. O corpo, tal qual fantoche, voou aos ares e caiu por sobre onde fora arremessado. O vôo deve ter tido a duração de pouquíssimos segundos, mas recordo de tudo ter acontecido em slow motion, vagarosamente me parecia encenado, e o vôo me parecia mais um corpo planando, brincando no ar, contrariando a lei primeira e unica, da gravidade a qual comanda todos nós. E desafiando a lei da fragilidade da vida, vejo o gajo levantar-se e por-se de pé, ainda assegurando aos presentes sua boa condição física, acalmando os apavorados espectadores da cena dantesca.
Ofereci-lhe a ajuda que podia, perguntei se queria uma ambulância ou qualquer outro tipo de socorro. Mas ele apenas sorriu e me disse que gostaria de fazer xixi. Lembro ainda de ter pensado "homem que é homem não faz xixi, mija."
Entramos juntos numa loja de esquina, onde as vendedoras apavoradas após terem assistido ao ocorrido, prontamente lhe apontaram o toalete. Ele correu para o banheiro. Deveria querer se certificar que estava tudo bem lá em baixo.
Segui meu caminho, de volta ao trabalho, e ele, o acidentado, seguiu o seu. Certamente mais dolorido e mais chocado com o que passara do que eu.